maio 07, 2024

VOLTO AO TEMA: O GOLPE CONTRA DILMA

 


Volto ao tema e reitero: não houve impeachment, mas um golpe urdido de forma “constitucional”, com argumentos “legais”, ou melhor, falsamente legais, já que o motivo alegado – as tais “pedaladas fiscais” foram uma peça de ficção, devidamente arroladas em termos jurídicos por advogados espertalhões, contratados pelos golpistas da direita. Leia-se: na época, PSDB, com Aécio Neves à frente.

Mas, vamos lá. Muita gente argumenta que Lula não deveria ter escolhido a Dilma para sucedê-lo. Ora, por que não? Se ele indicou e o partido acolheu, não houve nenhum ato de arrogância ou de ilegalidade, ou mesmo, de desrespeito aos princípios partidários. Dilma havia se revelado uma excelente administradora durante todo o governo Lula, era uma pessoa de sua extrema confiança e de um currículo de vida pessoal e acadêmico acima de qualquer suspeita ou de qualquer reparo.

Concordo que Dilma não era uma política, não tinha “jogo de cintura” para enfrentar os lobos, mas seu primeiro mandato foi de extrema competência, superando todas as expectativas, inclusive do próprio Lula. Lula. Basta ver os índices econômicos do seu último ano (do primeiro mandato). Dilma era para ser uma espécie de “mandato-tampão”, ou seja, ela prepararia a volta do Lula. Porém, devido ao sucesso de seu governo, Lula teve a humildade de aceitar que ela disputasse um segundo mandato. Justo, muito justo, justíssimo.

Devido ao seu sucesso, a reeleição de Dilma se configurava como óbvia. Isso, é lógico, acendeu a sanha golpista da direita, porque perceberam que Dilma teria mais 4 anos e Lula teria, a seguir, mais 8 anos. Ou seja, o PT governaria o Brasil por 24 anos quase certamente. Isso era inconcebível para a direita golpista. Lembre-se de que a direita foi sempre golpista, desde os tempos de Getúlio. Estavam apenas arredios, nos últimos anos, devido ao descalabro dos governos militares, em todos os sentidos.

Então, as elites (recomendo a leitura do livro do Jessé – A tolice das elites brasileiras, no qual deixa claro que elas - as elites – sempre usaram de todos os meios possíveis para manter seus privilégios), repito, as elites precisavam achar algum meio de detonar o governo da Dilma. Começaram, já um ano antes das eleições, com os empresários da direita dispensando em massa os trabalhadores, pisando firmes no freio na economia. Isso, porém, não foi suficiente: a Dilma ganhou. Por pouco, mas ganhou. Então Aécio aventou a hipótese das urnas fraudadas. Era o mote de que precisavam. Que se alastrou como rastilho depois, através das igrejas pentecostais e do bolsonarismo. (Mas isso foi depois e é outra história, trágica história).

Voltemos à Dilma: ela realmente não tinha jogo de cintura, nunca foi política. Era uma administradora, uma governante. O Congresso eleito era hostil. Ela devia negociar com esse Congresso. Mas não era um Congresso apenas hostil, era um Congresso (e ainda é) que queria privilégios; o presidente da Câmara - você sabe quem era e nem vou dizer o nome do canalha - queria ser o primeiro-ministro, queria governar (como fez o Lira com o Bolsonaro mais tarde). Dilma, porém, tem uma ética pessoal profundamente arraigada, por todo o seu histórico de vida: não negociar com canalhas. Principalmente não negociar com canalhas golpistas da direita. As consequências você sabe: o impeachment que, na verdade, foi um golpe. O resto da história é o que nós sofremos depois: Itamar e Bolsonaro. Esse último catalizou, com sua estupidez paquidermicamente impermeável, o discurso da extrema direita e foi eleito, porque contou com a canalhice dos pastores pentecostais e com o velho e funcional discurso da corrupção do estado e da "santidade" do mercado (novamente recomendo que se leia Jessé Souza, acima citado).

A direita tentou o golpe (o PSDB e Aécio) e entregou a rapadura para a extrema-direita e, pior, eles não se arrependeram, pelo que consta, do que fizeram. Estão ainda por aí, com o rabo entre as pernas, mas ainda tentando suas canalhices. Até mesmo se aliando às ideias bolsonaristas, já que continuam demonizando o estado e exaltando o mercado, defendendo privatizações de bens essenciais, como a água (veja-se o projeto do Tarcísio de Freitas, o zé carioca governador de São Paulo, de privatizar a SABESP); ou deixando de investir em prevenção contra enchentes, como fez o governador do Rio Grande do Sul, que, no ano passado, não gastou um só tostão com essa medida, associando-se ao negacionismo bolsonarista de que não há aquecimento global. E o resultado está aí: o estado quase todo debaixo d’água e o senhor Eduardo Leite, de rabinho entre as pernas e pires, ou melhor, um prato fundo nas mãos, pedindo verba para a salvação das vítimas e reconstrução das cidades destruídas. (Tudo bem: mesmo se ele gastasse verba com prevenção, isso não evitaria o desastre, mas esse fato diz bem o tipo de políticos que estamos elegendo).

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