outubro 27, 2014

O RESULTADO DAS URNAS





Dilma Rousseff ganhou as eleições, porque conseguiu vencer três adversários poderosos:

Primeiro, certo grupo de empresários influentes, que têm uma visão estreita de política e que não suportam imaginar um País com direitos para trabalhadores, em que não possam contar, como em muitos outros lugares, com mão de obra semiescrava, ganhando mal e produzindo muito. Esse grupo de empresários - ligado a partidos de oposição - paralisou o Brasil, por mais de seis meses, com intenção deliberada de prejudicar a presidenta reeleita, numa das orquestrações mais criminosas da história do País, um crime difuso, cujos autores é impossível identificar. Paralisaram as máquinas, diminuíram a produção, despediram funcionários, contrataram somente o indispensável, assim mesmo com salários menores, tudo de forma sutil, como uma quadrilha que age no meio da noite, sorrateiramente, sob o olhar complacente da mídia sempre disposta a ver em cada índice econômico desfavorável o fundo do poço, o abismo. Isso não é teoria conspiratória: é a realidade que está em todos os jornais, em todas as revistas em todas as análises de âncoras de rádio e televisão, basta ter olhos para ver, perceber, analisar e chegar a uma conclusão.

Segundo, a mídia a serviço de um partido político. Nas mãos de meia dúzia de famílias (essa repetição já está ficando exaustiva), essa mídia manipula informações, distorce fatos, ergue e destrói reputações, sem nenhuma ética jornalística. Seus cães amestrados - jornalistas que só escrevem e falam o que mandam seus donos - cumprem a triste tarefa de se exporem ao ridículo de forjar notícias que sirvam aos interesses um único grupo político. Não desfrutam de nenhum liberdade de opinião em suas redações. Os que ousam desafiar orientações superiores são sumariamente demitidos. Os que restam ou cumprem as ordens por necessidade de sobrevivência ou se alinham ao pensamento dos superiores, de forma servil e indigna. Alguns órgãos de imprensa conseguem iludir seus leitores, publicando artigos de oposição, como a dizerem que são democráticos. Mas, se tal artigo (geralmente matéria encomendada a algum medalhão) obtém repercussão, seus cães amestrados logo se colocam na linha de tiro, para desconstruir inapelavelmente, e sem direito de resposta, qualquer argumento que contrarie a voz do dono. Enfim, um inimigo que não dá tréguas, martelando a consciência da população diuturnamente. Muitos são os que, enganados pela repetição exaustiva de mentiras, acabam por acreditar nesses avatares da desinformação e dos interesses escusos de seus patrões, de interferirem de forma criminosa nas decisões do povo.

Terceiro, a máquina partidária do PSDB. Um partido que nasceu para ser uma opção de centro-esquerda e que se bandeou para a extrema direita, levado, principalmente, pela mídia e pelas elites conservadoras do Estado de São Paulo. Abro um parêntese para uma velha anedota. Contava-se, na década de sessenta e setenta, que alguém chega a uma banca de jornal e pergunta se o jornaleiro tem "Estadão" atrasado e obtém como resposta que ali não se vende mapa do Estado de Minas Gerais. Essa mesma piada teria, hoje, por resposta exatamente o Estado que lhe deu origem: São Paulo. Os paulistas ainda não se deram conta de que não são mais a locomotiva do Brasil, de que o desenvolvimento de outros estados, de ponta a ponta do País, mas principalmente de Minas e dos estados nortistas e nordestinos, já há muito tem deslocado o polo econômico para essas regiões e tem oferecido oportunidades de crescimento a suas populações. Os paulistas ainda não se deram conta de que o desenvolvimento passado de seu Estado deveu-se, e muito, às ondas migratórias, principalmente do Nordeste. E hoje, politicamente, São Paulo é o estadão atrasado e preconceituoso, com uma elite de visão ultrapassada e conservadora, encastelada em visões do  passado, elegendo e reelegendo políticos do mesmo naipe, para governar o Estado, como se ele fosse uma capitania hereditária. O PSDB, cuja máquina partidária deveria ter o rumo de um partido político moderno, tornou-se uma máquina de rancor, de ódio e de ranço conservador de uma direita quase fascista, ao se deixar dominar pelos políticos paulistas.

Dilma Rousseff não ganhou as eleições porque o Norte e o Nordeste lhe deram expressiva votação. Ganhou porque obteve - apesar de não ser a maioria - expressiva votação também em todos os estados e, principalmente, porque ganhou em Minas Gerais. Foi esse último o fiel da balança e não, como pensam os preconceituosos, os nortistas e nordestinos.

E por que venceu Dilma em Minas, o Estado onde seu opositor foi governador?

Por três motivos. Primeiro, porque Aécio Neves exagerou ao apresentar seu governo como a maior vitrina de sua capacidade administrativa. Claro, não foi um mau governante e os índices de aprovação de sua administração são incontestáveis. Justifica-se: mineiro gosta do político conterrâneo que tenha por trás de si uma longa tradição de políticos e Aécio, afinal, é o herdeiro de um homem que, se não chegou a tomar posse como presidente, teve uma importância fundamental na história recente do País. Mas ele exagerou e mentiu, quando apresentou realizações muito acima daquilo que realmente fez, quando governador. Tanto, que acabou por entregar ao PT a próxima administração. Segundo, porque está enraizada no inconsciente coletivo dos mineiros uma história mal contada de traição, a de Tiradentes, seu herói maior. E mineiro odeia traição. Aécio, sem querer, talvez, por inadvertência, traiu os mineiros ao se aliar fortemente aos políticos paulistas. Seu candidato a vice confirma isso. Buscou ele no PSDB paulista os principais pontos de apoio e de programa de campanha e de governo, sem atentar que, inconscientemente, estava traindo os políticos e o povo mineiro. Que não lhe perdoou: votou na Dilma que, embora tivesse pouca relação com Estado, é também mineira, o que alivia bem a consciência do eleitor. Terceiro, porque fez uma campanha agressiva. Não há dúvida de que também "apanhou como gente grande", como se diz. Mas, por dever de oposição, como candidato, mais uma vez exagerou na dose, sem perceber que o brasileiro, inconscientemente, apesar de ser machista, não gosta de quem "bate em mulher". Mas não se saiu tão mal assim, já que, na primeira fase da campanha, não tinha nem a possibilidade de chegar ao segundo turno. Seu crescimento político e o número de votos conquistados o habilitam como um político hábil - que ele realmente é - que ainda pode sonhar com voos altos, se repensar sua posição e conseguir se livrar desse extremismo direitista paulista que agregou à sua persona política, nessa campanha.


Concluindo: Dilma Rousseff venceu as eleições com o voto de brasileiros de todos os pontos do País. Ao contrário do que pensam os imbecis e preconceituosos que estão a pregar uma divisão do povo, não existe voto qualificado: pela lei e pelos princípios de democracia solidamente constituídos de forma legal e filosófica, todos são iguais perante a lei e o meu voto vale exatamente igual ao seu, ao do meu vizinho ou ao do pescador de Rondônia ou ao do vaqueiro do Rio Grande do Sul. E a vontade soberana do povo, em eleições legítimas e legitimadas pelo poder de uma Justiça Eleitoral livre e independente, não pode ser desrespeitada e violentada por qualquer minoria derrotada, apenas por implicância ou preconceito, esse sim, um crime de lesa-pátria e de lesa-humanidade.

outubro 21, 2014

LIBERDADE DE IMPRENSA X IMPRENSA LIVRE







A Rede Globo de Televisão e também as assim chamadas co-irmãs, ou seja, todas as demais redes de rádio e televisão do País, acompanhadas da mídia impressa, enchem a boca de seus apresentadores de telejornais, de seus jornalistas, de seus comentaristas, para qualquer evento em que se discuta ou que alguém de peso defenda a liberdade de imprensa.

Sim, liberdade de imprensa (liberdade de opinião, liberdade de mídia) é um bem fundamental de qualquer democracia. Direito e dever. Inalienável. Como vários outros princípios democráticos.


Temos, no Brasil, assegurada pela Constituição Federal, amparada por leis, defendida por todos, total liberdade de imprensa. Total liberdade de mídia. Nenhum jornal, nenhuma emisssora de televisão ou de rádio, nenhuma revista ou qualquer outro tipo de mídia têm sido perseguidos ou seus integrantes, presos, por opinião ou pelo exercício de seu ofício. Os três poderes da República funcionam em harmonia e se respeitam, apesar de divergências, mas respeitam, acima de tudo, a liberdade de opinião de todo e qualquer cidadão.

Mas... E aí vem uma adversativa que a nossa imprensa adora: há sempre um "mas" em qualquer notícia que nossa mídia publique sobre a situação do País - "a economia cresce, mas...", "não há desemprego, mas..."

Então, em relação à liberdade de imprensa/liberdade de mídia, também queremos ter o direito de colocar um "mas..."

E a nossa adversativa vem carregada de perplexidade, porque há um paradoxo nessa tão decantada liberdade que enche a boca de nossos ilustres apresentadores e comentadores só existe como quimera. Porque não há liberdade alguma dentro de nossa mídia, concentrada nas mãos férreas de cinco famílias. O que a nossa imprensa/mídia confunde é a liberdade de imprensa (liberdade de mídia) com imprensa livre (mídia livre).


Desafio qualquer jornalista de nossa grande mídia - Globo, Veja, Estadão, Folhão etc. - a dizer, sem muito óleo de peroba na cara, que tem liberdade de dizer e escrever o que pensa, dentro das redações e, principalmente, publicar em seus jornais, revistas e dizer em suas rádios e televisões opiniões que contrariem as opiniões de seus patrões.

Claro: muitos jurarão de pé junto que publicam o que pensam, porque há o outro lado cruel dessa moeda - não fica empregado nessas redações um só jornalista ou comentarista que destoe seu pensamento do pensamento do patrão. São todos escolhidos a dedo. Os que não se conformam às orientações que vêm de cima, se chegam a trabalhar, não permanecem.

E as famílias são oligopólios do pensamento único: suas ideias, sua ideologia, sua postura têm o cheiro pútrido do conservadorismo que nenhuma naftalina consegue disfarçar. São todos "quatrocentões" de todos os costados, aqui aportados nas naves vagabundas de Cabral. Nenhum pensamento modernizador ou de viés social, ou que implique a ascensão das massas populares ao poder, ou mesmo, às benesses do capitalismo selvagem que defendem, pode chegar a seus leitores, ouvintes ou telespectadores, que isso é visto como veneno ou ameaça a seu poder e ao poder que representam, fincado nos chãos de fábricas onde o operário é massa de manobra, ou fincado nos latifúndios lucrativos do agronegócio onde o lavrador é apenas o adubo que fertiliza a terra. Ambos - a indústria e o campo - nas mãos hábeis dos capitalistas internacionais, aqueles que lhes compram a consciência com o ouro negociado nas bolsas de Nova Iorque, Londres ou Tóquio e transformado em mais poder - econômico e político.

Portanto, a liberdade de imprensa/mídia - um bem inalienável em qualquer democracia - torna-se uma quimera, um jargão de noticiário do horário nobre, se não tem a contrapartida de uma imprensa/mídia livre. Não há realmente, liberdade de imprensa/mídia, enquanto a imprensa/mídia estiver sob o domínio oligopolizado de uns poucos.

E pior: de uns poucos que manipulam e mentem, que usam pesquisas e meios escusos de toda espécie, para influenciar a mente do povo, para fazer com que se elejam os seus cupinchas, os seus paus-mandados, como já fizeram no passado com um determinado presidente que foi, depois, devidamente defenestrado do poder, quando o povo percebeu o engodo.


A História que se repete, só se repete como farsa. E o povo sabe disso. Por isso, se muitos se deixam envolver pela mentira, pela falta de caráter de nossa mídia - que tenta mais uma vez manipulá-lo -, a maioria saberá dar o troco nessa gente e dar mais um passo à frente, no sentido de emancipação de um povo que se vê empobrecido e escravizado há quinhentos anos e está começando a gostar da liberdade que não têm os nossos jornalistas nas redações de suas empresas de mídia. Pobres coitados!