setembro 25, 2010

UMA CERTA ELITE CAIPIRA

(Henry Tuke - sous le soleil)




São ricos, muito ricos. Ricos e mal afamados. Ricos e inconsequentes. Ricos e bagunceiros.

Não têm o menor respeito à vida, alheia e própria. Não têm o menor respeito às pessoas. Não têm o menor respeito às mulheres. Tratam-nas como objeto, e ponto. Que devem estar disponíveis, sempre, mesmo que à força – da grana ou do muque.

Porque são moleques fortes, acostumados à vida rural, às vezes até mesmo a montar touros bravos em rodeios regados a uísque importado, animados por duplas sertanejas famosas e com muitas, muitas mulheres, algumas até famosas, modelos de revistas ou figurinhas carimbadas da televisão.

Constituem, com seus pais, familiares e agregados, a elite caipira do interior de São Paulo. E são a lata de conserva do que há de mais tradicional, antiquado e moralista jeito de viver das cidades médias e grandes do interior do Estado mais rico do País.

Copiam dos Estados Unidos da América aquilo que eles têm de mais conservador e fascistoide: desde as roupas estilo country, com chapéus, camisas listradas, jeans, botas e esporas, até o jeito de andar e falar, como os machões do velho oeste.

Em vez de cavalos, montam caríssimas vans e jipes de mais de cem mil dólares, com vidros escuros e aparelhagem de som de dar inveja a qualquer show de rock, para tocar em volumes ensurdecedores o último hit de uma dupla sertaneja qualquer ou de uma cantora cobiçada e admirada mais por suas pernas e seios do que pelas qualidades vocais.

Nos rodeios, gastam o dinheiro dos pais para verem e serem vistos, na ostentação barata de um poder provindo daquilo que move a economia não só do Estado mas também do País: o agronegócio.

Influenciam, com seu jeito rude de quem fez alguma faculdade apenas para colocar na parede o diploma inútil (isso quando terminam a faculdade) as milhares de pessoas que lucram de forma direta ou indireta com os negócios de seus pais, tios, primos etc., porque assim como os pais, tios e demais familiares, também eles serão, passados os arroubos da juventude, os líderes políticos regionais e até mesmo, aqueles mais espertos e menos broncos, de renome estadual ou nacional.

Suas idéias políticas, no entanto, não ultrapassam os muros do conservadorismo mais comum e mesquinho, com conceitos como família, trabalho, honra etc. É claro que a família é a deles, sempre; o trabalho, o dos empregados mal pagos e mal tratados de seus canaviais e fazendas e a honra, bem, a honra é aquela do “prenda suas cabritas que meu bode está solto”.

Catalisadores desse conservadorismo, são os novos coronéis de negócios milionários que implicam exportar milhões dólares de etanol, laranja, café, carne etc. e importar carrões, ideias e preconceitos estadunidenses, para manter cativo um extenso e bem nutrido eleitorado, espalhado pelas outrora afamadas terras roxas do Estado de São Paulo.

E como dinheiro traz poder e dinheiro e poder juntos arrebatam e arrebanham, eles, os jovens (e também os velhos) donos do agronegócio paulistano mandam e desmandam no Estado, inclusive sob os auspícios de uma certa mídia que lhes abana o rabo, sedenta ela também das migalhas desse poder e dessa grana toda.

É essa elite – enlatada e conservada em agro dólares – que vota e leva todos os seus agregados a votar em gente como Geraldo Alkmim – o arrogante primaz da Opus Dei – para manter o maior Estado do País nos trilhos seguros do conservadorismo demotucano aqui profundamente arraigado.

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