maio 21, 2023

A CPI DO MST

 



Uma comissão parlamentar de inquérito quase sempre dá palanque e visibilidade a seus componentes: a mídia divulga e comenta em boletins diários os principais depoimentos, os embates, as contradições das testemunhas etc. Também pode virar, muitas vezes, um circo mambembe de atuações toscas de parlamentares despreparados, de testemunhas circenses e grotescas, desgastando esse importante instrumento de vigilância que a Câmara e o Senado usam para fiscalizar, denunciar e até, muito raramente, para punir malfeitos.

O MST, Movimento dos Sem Terra, todos sabemos, tem uma trajetória de luta pela reforma agrária e pela defesa da agricultura familiar. Invade terras? Sim, e todos estamos carecas de saber que invadem, sim, terras. E muitas vezes, invadem grandes propriedades ou latifúndios que eles consideram improdutivos. Isso incomoda o agronegócio e os grandes fazendeiros? Sem dúvida alguma. E eles odeiam o MST. Cometem exageros? Com certeza, dentre as inúmeras vezes que eles invadiram “propriedades” (sejam improdutivas ou do agronegócio, ou de grandes corporações), houve, sim, alguns exageros, cometidos irrefletidamente ou não por membros do MST. São condenáveis esses exageros? Muitas vezes, sim. Embora a luta ideológica – de que não vamos falar neste breve artigo – possa justificar tais exageros, principalmente porque o outro lado também comete muitos exageros, e até mesmo crimes. Mas deixemos de lado, por enquanto, esse aspecto da luta agrária brasileira, luta que vem de há muitas e muitas décadas.

O que nos importa, por enquanto, é tecer algumas considerações sobre a CPI já instalada e que pretende investigar as atividades do MST.

Na minha modesta opinião, eu creio estaremos diante de um palco iluminado para o show dos deputados da bancada ruralista e da direita hidrófoba que existem hoje no Congresso. E será um show de horrores.

Explico: o objetivo deles é demonizar o MST. Ou tentar, pelo menos. E tudo quanto vão “descobrir” ou “denunciar” do MST todos nós já sabemos. Então, a mídia vai ampliar as denúncias, vai dar voz a essa malta hidrófoba que vai se esgrimir contra as testemunhas favoráveis ao MST – se houver - e vai dar o seu próprio show de sempre, ao lado da direita, porque também a mídia – comprometida sempre, por seus patrões, com os valores da direita – já deve estar afiando os dentes para cravar no pescoço dos “bandidos” do Movimento dos Sem Terra.

Não haverá nada de novo, portanto. E quando o show não tiver mais nada a mostrar ao público e à mídia, o relator – escolhido a dedo para isso – irá apresentar suas conclusões óbvias de condenação, de vários pedidos de indiciamento e até de prisão dos membros do MST.

E depois? E depois, nada.

Porque conclusões de CPIs são apenas conclusões de CPIs. Algumas até se transformam em lentos processos na justiça, ou pedidos de investigação pela Polícia Federal ou por outro órgão fiscalizatório, mas... na maioria dos casos (vide a CPI da covid-19, que relatou crimes graves!) nada acontece. Tudo cai no esquecimento, porque outra CPI ou outros assuntos vão ocupar a vida dos senhores parlamentares e alimentar a mídia, cuja boca é sempre voraz por novidades e cuja memória tem o tempo do acontecimento.

Então, meus amigos, relaxemos e deixemos que se abram as cortinas do espetáculo, para criticar e, principalmente, para aplaudir ou demonizar aqueles com os quais concordemos ou discordemos, nas redes sociais, nos desenhos dos cartunistas, nas piadas de sempre, nos comentários divertidos ou rancorosos. E vida que segue.

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