Muitos hão de se lembrar do
Sujismundo, que deu vida à campanha do governo federal (ainda na época da
ditadura) – “povo civilizado é povo limpo”, nos anos 70. Muitos interpretaram
essa campanha invertendo a frase – “povo limpo é povo civilizado”, para dar a
conotação mais precisa do que estava nas intenções dos ditadores, ou seja, só é
civilizado quem é limpo. Ou algo assim.
Pois bem, ressuscitamos o Sujismundo
para falar do prefeito eleito de São Paulo. Sua primeira grande ação – sem dúvida,
de marketing – será “limpar” a cidade, que ele já declarou que está “imunda”.
Começando pela Avenida Nove de Julho, com limpeza de calçadas, muros, canteiros
centrais etc. E que essa operação deverá ser estendida a toda a cidade, através
das subprefeituras.
Tirando o marketing, sem dúvida
ninguém pode ser contra a que a cidade se torne um pouco mais “civilizada”, que
é o que está por debaixo da ideia do prefeito eleito. Civilização significando
limpeza. Ou, se formos um pouco mais ao fundo, higienização.
O termo é forte? Não, não é. Para
a cabeça de pessoas como o prefeito eleito, “povo limpo é povo civilizado”. Ou
seja: não importa que a cidade tenha carências profundas de habitação,
saneamento básico, transporte, mobilidade urbana, tratamento do lixo,
desfavelização e, principalmente, educação. Tudo isso pode ficar em segundo
plano, se tivermos melhores calçadas, jardins e praças e parques bem cuidados,
guias pintadas, muros sem pichações etc.
Eu disse, no título desse artigo,
ideias velhas caiadas de novo. Sabe por quê? Porque tudo isso me lembra um
outro prefeito, que fazia muito bem esse marketing: Jânio Quadros. E o que
deixou o ilustre ex-presidente para a cidade? Que eu me lembre, a descoberta dos
arcos do Bixiga, ali na Avenida 23 de Maio. Além, é claro, das encrencas que
ele arrumava, multando pessoalmente pessoas e empresas que ele achasse que
deviam ser multadas, enquanto se dirigia de sua casa para a prefeitura, fato
que alimentava uma certa imprensa. E alimentava o folclore de que ele se nutria
para manter a ideia de homem enérgico e realizador.
Será que o prefeito eleito de São
Paulo, ao assumir a 1º de janeiro, começará também a percorrer a cidade para
implicar com comerciantes, bater boca com feirantes e ambulantes, para mandar
retirar os “noias” das sarjetas e expulsar os fiscais corruptos, que levam
propina para aprovar qualquer coisa? Poderá, assim, ressuscitar não só
Sujismundo, mas também a vassoura do Jânio.
Como dizia o Bruxo de Cosme
Velho, “ao cabo, só existem ideias velhas caiadas de novo”.