Há poucas semanas, numa troca óbvia
de favores, "aquela revista semanal" publicou matéria de capa
perguntando se não estaríamos sendo injustos com o Kassab, o ainda prefeito de
São Paulo.
Pois bem, vamos tentar fazer-lhe
justiça.
Gilberto Kassab ganhou a prefeitura
de São Paulo como vice de José Serra e herdou, claro, o prestígio do padrinho,
nos dois anos que se seguiram, com os mesmos secretários de governo tocando a
cidade. Isso garantiu-lhe um segundo mandato. Claro, parecia que ia tudo bem.
Mas, a verdade, é que, como
administrador, Kassab é um desastre. Sua popularidade começou a despencar já no
início de seu voo solo, quando tentou e não conseguiu dar uma rumo próprio à
administração da cidade. Não vou comentar seus insucessos, porque isso é público,
notório e muito claro na cabeça dos paulistanos, que o elegeram como um dos
piores prefeitos, só perdendo para o Pitta, também ele uma criatura saída da
esperteza de outro político. Parece que brincar de Frankenstein não dá muito certo
em política: os mostrengos quase sempre fracassam.
Como político, no entanto, não
podemos deixar de admirar sua esperteza e tirocínio.
Ligado visceralmente ao Serra, não
teve dúvidas em apoiá-lo, quando este saiu candidato a prefeito. Até mesmo
arquitetou com o padrinho uma jogada de mestre para ajudá-lo: deixar os cofres
cheios e os projetos (todos envolvendo grandes empreiteiras e obras enormes) já
adiantados, para que o padrinho pudesse, em dois anos, firmar-se como grande
realizador e fazer caixa para... a campanha presidencial, claro. Não deu certo.
Serra perdeu as eleições.
Não pense, no entanto, que esse
tenha sido um fracasso de Kassab. De jeito nenhum. Retrocedamos um pouco. Oriundo
do DEM, o melífluo prefeito de São Paulo logo detectou o grau de deterioração
desse partido e, com seu faro apurado, tratou logo de cair fora, não para outra
sigla, mas fundando o seu próprio partido, com os descontentes não apenas do
DEM, mas de todos os demais partidos. Está insatisfeito? Sem espaço? Não tem
problema, as portas do PSD estão abertas para todos, numa alegre festa
colorida, um verdadeiro arco-íris, já que o próprio Kassab definiu seu partido
como não sendo nem direita, nem de esquerda, nem de centro!
Assim, antes da candidatura Serra,
Kassab já flertava abertamente com o PT e buscou sempre aproximação com a
presidenta Dilma. Só recuou quando Serra entrou na disputa. Mas já havia,
espertamente, acendido sua outra vela. E, passadas as eleições - em que seu
partido fez quase quinhentos prefeitos, pouco menos de 10% das cidades do País
- Kassab tem cacife político para negociar com o governo de Haddad, dando-lhe
apoio na Câmara (essencial, para os planos do novo prefeito) e fincar pé na
política nacional. Ou seja, lançar-se nos braços do Governo e, quem sabe, cavar
um ministério.
Se isso se concretizar, eu ousaria
sugerir à Presidenta que lhe desse o Ministério da Pesca. Se, como
administrador, Kassab foi deixa muito a desejar (e isso é o mínimo que se pode
dizer dele), como político, façamos-lhe justiça: tem inegáveis qualidades de pescador,
já que soube lançar as redes de seu partido e apanhar bagres, lambaris,
tubarões e não sei quantas outras espécies de peixes de todos os demais
partidos.